Por que render contribuições hermenêuticas ao ser em sua antropologia; suas realidades sociais e atribuições que lhe torna sempre invisível e no entanto, desejado?

Na história da construção mitológica e racional das civilidades anteriores, a posteridade sempre confiou-se bem aventurada dando-se ao uso dos fundamentos e bases de seus antepassados, as mais puras e sacras razões de uma ordem.

Quase sempre em formas de preceitos teológico em  modos de contemplação, exortação, louvação e adoração. Assim, no finalzinho da Antiguidade, a civilização grega, percussora das leituras eurocêntrica de culturas e de mundos diferentes, através de um movimento de racionalização dos saberes humanos e retirada das explicações mitológicas da origem do mundo, do universo e seus elementos, a Filosofia, num dos seus mais notáveis precursores conhecido por, Parmênides de Eléia, leu-se em frase com atribuição de sua autoria; “o Ser  é, o não ser não é”. Situado no que foi chamado de Período Pré-socrático, é dado à espécie humana, a primeira luz do que ela já era, já vivia e nunca porém, houve quem lhe desse às claras, o que é de fato, o ser humano com suas atribuições e atributos. 

Depois destas demarcações, surgem as ciências e o uso dos entendimentos do ser continuam às margens das vontades e, desta vez, compreendido de modo sistemático por Aristóteles, grande filósofo da cidade de Eubéia, também localizada na Grécia. Esse estudioso versátil disse o ser, culturalmente envolto de três condições conceituais; sejam, ‘o ser é inacessível, obscuro e de extrema complexidade’, devendo o mesmo ser deixado ao desuso em suas providências.

Com isso, o ser se torna motivo de uso evasivo da Teologia e nesta, a divindade torna-se conceito de verdade, fundamentos existenciais e regente das vontades. E é ela mesma, a Teologia, ganhadora das vontades,  motivações e temperanças morais que, em suma, desprover e despotencializam o ser da espécie humana, tornando-lo em gênero distinto, criação divina. Submetendo os mesmos a uma égide moral superior e julgadora de seus atos. Destas iniciativas, a vigília e a punição posterior das almas, culminariam em sentenças de vida ou morte eterna destas, num tribunal de um juízo final de tais criaturas decaídas.

O ser ficou reduzido a um modo conceitual eclesial. Incapacitado de precisar as profundidades de sua inteligência e agir por meio de se mesmo. Dava-se, contudo, a Divindade, três atributos essenciais de suas condições, a onisciência, a onipresença e a onipotência. Mas, estes, condicionados a um devir. Caminho mal conhecido por todos, dado porém, ao comprobatório prevalecimento messiânico de um Deus Filho, nascido de uma mulher e de um homem, conhecido mundialmente por Jesus Cristo. Expoente que inspirou a origem de uma corrente religiosa conhecida pelas atribuições de seu próprio nome; a saber, Cristianismo.

A ordem que existe no Cristianismo, porém,  não obteve silenciamento de inúmeros governos nos seus mais diversos tipos e períodos, a não conclamarem, de modo quase sempre trágico, o vir a ser das coisas, para dar ao ser, sua identidade legítima. Com isso, faz-se possível, hoje, enumerar as Artes Trágicas (enquanto realidades em todos), tais como; o crucificação e morte cômica do próprio Cristo por sua gente, a conquista, invasão e destruição de inúmeras cidades e templos consagrados a Divindade Javé, tomada  e derrubada de cidades (principalmente romana) no período medieval, a Peste Negra, instituições e destruições de diversos tipos de governos e períodos literários, invenção e difusão de doenças incuráveis como a AIDS,  a Dengue e a COVID-19, por exemplo, acidentes de grandes proporções destrutivas, terrorismo, mortes fictícias de pessoas que se retiram de todo e qualquer convívio social, recluindo-se de suas próprias existências em sociedades e a própria violência em se; enquanto atos e acontecimentos que deflagram um índice de severas e diretas indicações que dão ao ser, aspecto de ausência : uma nomenclatura de covardias, temor e esfriamentos em muitos.

Enfim, mostra-se útil questionar; se seres humanos viverão no hoje; suas atribuições, capacidades e potenciais oniscientes, onipresentes e onipotentes em âmbito social e público, deixando de ser refém de seus medos e amarguras, ou dar-se-ão as suas próprias almas, cegueira espiritual para viver melhor o conforto e segurança que vem das presentes acomodações e displicência interior?

 

 

Daniel Sales, bacharel em Filosofia.

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