Salvador tem cinco vezes mais terreiros que igrejas católicas

Apesar de ser conhecida como uma cidade de maioria católica, Salvador tem hoje cinco vezes mais terreiros do que igrejas ligadas ao catolicismo. Segundo a Federação Nacional de Culto Afro-brasileiro (Fenacab), são 2.800 terreiros cadastrados na capital baiana, contra 589 igrejas, conforme a Arquidiocese de São Salvador.

Os números, no entanto, variam conforme a fonte. A Associação Brasileira de Preservação da Cultura Afro-Ameríndia (AFA) estima pouco mais de 2 mil casas de axé. Já a Secretaria Municipal da Reparação (Semur) tem 824 terreiros cadastrados voluntariamente, enquanto um estudo do Centro de Estudos Afro-Orientais da Ufba, em 2008, identificou 1.165.

Mesmo com divergências, especialistas destacam que há clara predominância dos terreiros na capital. O último Censo do IBGE apontou 59,9 mil praticantes de umbanda ou candomblé em 2022, o dobro de 2010. No mesmo período, o catolicismo perdeu força: pela primeira vez, menos da metade da população se declarou católica – 44% (947 mil pessoas), queda de 22,5% em relação ao Censo anterior.

Distribuição pela cidade
Apesar do número expressivo, os terreiros são menos visíveis que as igrejas. Historicamente, foram empurrados para áreas periféricas, devido ao racismo estrutural e à perseguição religiosa, explica Leonel Monteiro, presidente da AFA. Regiões como Cajazeiras, Castelo Branco e Fazenda Grande IV concentram casas de axé, por ainda preservarem áreas verdes e mananciais.

Tradição religiosa

A grande quantidade de terreiros também se explica pela estrutura das religiões de matriz africana. Cada iniciado que recebe o sacerdócio pode abrir uma nova comunidade religiosa, seja por sucessão ou fundação própria.

Perfil

O mapeamento mais abrangente, realizado em 2008 pela Ufba, mostrou que 57% dos terreiros eram da nação Keto e 24% da Angola. Os bairros com maior concentração eram Plataforma (58), Cajazeiras (46), Paripe (42), Cosme de Farias (36) e Liberdade (34). Atualmente, o Subúrbio e Cajazeiras seguem como principais polos.

Segundo Evilasio Bouças, do Conselho Municipal das Comunidades Negras, a nação define até a língua e a forma de culto: no Keto, de origem iorubá, os fiéis cultuam os orixás; já na Angola, de origem banto, as divindades são os Nkissis. 

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