Quando uma franquia cinematográfica anuncia o quarto filme, exatos 30 anos depois do anterior, não é fácil acreditar que coisa boa está vindo. Ainda mais quando é “Um Tira da Pesada”, que levou Eddie Murphy ao estrelato ainda nos anos 1980. Depois do sucesso estrondoso do primeiro longa, em 1984, os dois seguintes, em 1987 e 1994, não tinham o mesmo fôlego e a mesma graça.
Tanto tempo depois, “Um Tira da Pesada 4: Axel Foley”, disponível na Netflix a partir desta quarta (3), é uma grande surpresa. Não tem a mesma ação contínua e a ousadia de brincar com brancos ricos da Beverly Hills de 1984 incomodados com um policial negro debochado, mas traz um roteiro engenhoso para justificar uma nova aventura de Foley.
O caminho até esse quarto exemplar da franquia foi tão conturbado que daria um filme, mas um tanto repetitivo pelos inúmeros anúncios de sua produção, frustrados por problemas. Foram pelo menos cinco projetos, com diretores e roteiristas diferentes, que acabaram sucumbindo diante de entreveros entre as equipes e o principal interessado na produção, o próprio Eddie Murphy.
A coisa só andou mesmo depois que o megaprodutor Jerry Bruckheimer decidiu se aliar a Murphy para essa retomada. Nome por trás de sucessos como a franquia de TV “C.S.I.” e de blockbusters como “Top Gun” e a saga “Piratas do Caribe”, ele entregou o roteiro a Will Beall, que também escreveu “Bad Boys para Sempre”, em cartaz nos cinemas.
Na direção, Mark Molloy, de currículo pífio. Segundo a imprensa americana, Bruckheimer procurou alguém que aceitasse totalmente as ideias de Murphy, que teria praticamente conduzido pessoalmente tudo o que se passou no set. Relatos dão conta que o ator, também produtor do filme, chegava pela manhã ao trabalho trazendo inúmeras alterações no roteiro.
Na trama, Axel Foley vive agora em Detroit e continua sendo o policial mais eficiente e desobediente da força local, sem a menor vontade de se submeter aos limites impostos pela chefia. Logo na primeira sequência do filme, ele pega o volante de um caminhão limpa-neve e praticamente destrói o centro da cidade ao perseguir quatro ladrões.
Ele acaba retornando a Beverly Hills quando seu ex-parceiro Billy Rosewood avisa que a filha de Axel, a advogada Jane Saunders, está sendo ameaçada por bandidos. Ao chegar lá, descobre que o amigo está desaparecido e que o caso em que sua filha está trabalhando envolve corrupção pesada dentro da polícia.
Logo ele volta a ser o Axel do primeiro filme. A confusão o acompanha em todos os passos da investigação, deixando um rastro de destruição por onde passa. E o protagonista tem que lidar também com sua relação difícil com a filha. Os dois estão afastados há cinco anos. Jane o rejeita, cheia de motivos para isso.
Aos 63 anos, Eddie Murphy está em muito boa forma física para filmes de ação, além de trazer um bom arsenal de gracinhas. Axel continua uma metralhadora giratória de sarcasmo ao encarar a bandidagem. E são alucinantes as várias cenas de perseguição nas quais o herói não se contenta com carros e motos. Axel caça os vilões ou foge deles em caminhão limpa-neve, carrinho de golfe, helicóptero e o que mais cair em suas mãos.
O roteiro segura um pouco as costumeiras piadas de temática racial que Murphy elenca em suas comédias, mas em alguns momentos é certeiro no tom de deboche. A única derrapada do enredo é gastar tempo demais com foco no conflito familiar entre Axel e Jane.
Funciona bem a participação de Joseph Gordon-Levitt com o policial mais jovem que é ex-namorado de Jane, mas com esperanças de reatar com ela. Sua presença era fundamental para as cenas de ação com mais exigência física, porque os amigos de Axel da primeira trinca de filmes, Taggart e Rosewood, ainda estão na história, mas os atores John Ashton e Judge Reinhold já exibem a falta de vigor da juventude. Só falta falar de Kevin Bacon, outro ator icônico dos anos 1980, que evidentemente se diverte fazendo o vilão.
“Um Tira da Pesada 4” sai aprovado na tarefa de resgatar um personagem carismático e um ator que já teve Hollywood a seus pés.
UM TIRA DA PESADA 4: AXEL FOLEY
– Avaliação Bom
– Onde Disponível na Netflix
– Classificação 14 anos
– Elenco Eddie Murphy, Kevin Bacon, Joseph Gordon-Levitt
– Direção Mark Molloy