Lula diz que não quer militar em favela no Rio e descarta GLO em seu mandato

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) descartou nesta sexta-feira (27) uma intervenção federal no Rio de Janeiro, após a onda de ataques de milicianos, que queimaram ônibus e provocaram caos na capital fluminense.

 
Lula justificou a sua decisão acrescentando que não quer militar nas favelas, “brigando com bandido”.
O mandatário participou nesta sexta de um café da manhã com os jornalistas que cobrem a Presidência da República, no Palácio do Planalto.

 
O mandatário foi questionado sobre ações do governo federal para o Rio de Janeiro, para contribuir com o enfrentamento ao crime organizado. Lula então voltou a descartar uma intervenção federal nos moldes que já aconteceram no passado.
Disse que não será decretada uma nova GLO (Garantia da Lei e da Ordem), enquanto ele for presidente.

“Nesta semana, tive uma reunião com os três comandantes das Forças Armadas e com o companheiro [ministro da Defesa, José] Múcio para discutir uma participação dele no Rio de Janeiro. Eu não quero as Forças Armadas, sabe, na favela, brigando com bandido. Não é esse o papel das forças armadas. E, enquanto eu for presidente, não tem GLO”, afirmou.

Nesta segunda (23), ao menos 35 ônibus e um trem foram incendiados no Rio de Janeiro em uma resposta à morte de Matheus da Silva Rezende, o Faustão, um dos líderes da maior milícia do estado.

 
O governo desde então vem buscando uma forma de auxiliar o estado no combate ao crime organizado, sem ter chegado a um formato ideal.

Durante a sua transmissão ao vivo na internet, o Conversa com o Presidente, Lula já adiantou que pretendia enviar as Forças Armadas para atuar de maneira “estratégica”. Efetivo da Aeronáutica e da Marinha, afirmou, seriam enviados para atuarem respectivamente em aeroportos e portos.

O presidente voltou a afirmar durante o café da manhã que vai empregar as Forças Armadas para essas funções.

“A gente não vai fazer nenhuma intervenção, como já foi feita há pouco tempo atrás, em que se gastou uma fortuna com o Exército do Rio de Janeiro e que não resolveu nada. Quando você faz uma intervenção abrupta, os bandidos tiram férias. Quando terminar a intervenção, eles voltam”, afirmou.
Em 2018, o então presidente Michel Temer (MDB) determinou intervenção na Segurança Pública do Rio de Janeiro de janeiro a dezembro. À época, disse que o crime organizado é uma metástase que se espalha pelo país.

 
O emedebista nomeou o general Walter Braga Netto para comandar a intervenção. Quatro anos depois, ele foi vice na chapa de Jair Bolsonaro (PL) pela reeleição, na eleição que perderam para Lula. Neste ano, a PF (Polícia Federal) avança na apuração de contratos supostamente ilegais firmados à época.
Nas redes sociais, Bolsonaro classificou os ônibus incendiados pela milícia no Rio como “ato de terrorismo”.

“Passamos 4 anos sem MST [Movimento dos Sem Terra], greves generalizadas e atos de terrorismo como os de ontem no Rio de Janeiro (ônibus incendiados). Apenas nos presídios o resultado das eleições foi comemorado”, afirmou no X, antigo Twitter.

O ex-mandatário, contudo, já saiu em defesa da atuação das milícias no Rio. Ele foi critico ao relatório final da CPI das Milícias, na Assembleia Legislativa do estado, e, em 2018, disse que é a maneira que as pessoas têm de ser livres da violência nas comunidades.

 
“Tem gente que é favorável à milícia, que é a maneira que eles têm de se ver livres da violência. Naquela região onde a milícia é paga, não tem violência”, afirmou.
O seu filho, hoje senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), quando era deputado estadual, fez uma homenagem com a mais alta honraria da casa para o ex-capitão da PM Adriano Nóbrega, em 2005. Segundo o próprio Bolsonaro, foi por determinação sua a honraria.

“Não tem nenhuma sentença transitada em julgado condenando capitão Adriano por nada, sem querer defendê-lo. Naquele ano ele era um herói da Polícia Militar”, afirmou, em uma entrevista em 2020, após a morte do miliciano.

Investigações apontam que Adriano atuava em diferentes atividades ilegais: milícia, jogo do bicho, máquinas caça-níqueis e homicídios profissionais.

Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência B