Mulheres em Movimento #3: Eva Bulcão

O Editorial temático Mulheres em Movimento chega à sua penúltima publicação, na Edição 2025. Desde o dia 8 de março, o Portal de Notícias BA Online tem sido o nosso palco, sendo muitas as reverberações que surgiram a partir das histórias aqui apresentadas. Dentre várias, destacam-se aquelas relacionadas à publicação anterior, que teve Katia Cerqueira como Protagonista. O texto foi lido por muita[o]s colegas que atuam na CASE Zilda Arns e, ao longo da semana, pude desfrutar da satisfação de saber que aquilo que foi produzido bateu certo.

Ainda nos embalos do povo da Zilda, além do agradecimento pela leitura, informava-lhes que a publicação seguinte apresentaria outra potência da FUNDAC, a Coordenadora Geral de Segurança, Eva Bulcão Mota. Aí é que foi coisa: sim, porque se já existe a grande responsabilidade de escrever sobre ela, identifica-se também a expectativa do público que tem nos acompanhado. E não me refiro apenas à colaboradora[e]s da CASE, Marta Rodrigues [Vereadora de Salvador e irmã do atual governador do estado], ao saber do projeto, me escreveu revelando que para ela “Eva é referência”.

Assim como na publicação #2, ainda que indiretamente, continuo escrevendo sobre minha chefe, porém, nesse caso existe um outro ponto salutar: Eva é Policial. Tomando como base o ditado popular que nos ensina que se deve “respeitar a puliça”, iniciamos a descrição da Protagonista da publicação #3: Psicóloga, com Mestrado em Segurança Pública [UFBA], dentre outros, Pesquisadora do Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva e Segurança Pública [NESSP/UNEB] e Diretora da RENOSP – Região Nordeste da Rede Nacional de Operadora[e]s em Segurança Pública LGBTQIAPN+.

Recém aposentada da Polícia Civil, enquanto esteve atuante foi Investigadora, sendo a única mulher a compor o COE – Centro de Operações Especiais da Instituição. Em sua família, além dela, composta por 3 irmãos e 2 irmãs, onde 2 são também integrantes das Forças de Segurança Institucionais  [1 irmão é Tenente da PM e 1 irmã é Policial Civil], pode-se observar elementos tradicionais da composição étnico-social brasileira, já que, a Família Bulcão [de origem árabe] estabelecida em Portugal, migra para o Brasil durante o período colonial e, na Bahia, finca raiz em São Francisco do Conde, “tem até um busto do meu tataravô lá, eles eram donos de fazendas de canaviais… o meu tataravô se casou com uma escrava e alforriou ela”.

Soteropolitana, com ancestralidade materna no Recôncavo e paterna em Feira de Santana, Eva fala com orgulho da história de vida de seu pai e de como os valores apresentados por ele são fundamentais para seu desenvolvimento humano e profissional: “aos 10 anos de idade, meu pai já trabalhava como comerciante para sustentar 12 irmãs, após o falecimento de meu avô. Eu entendo o que é uma infância vulnerabilizada porque meu pai também foi um adolescente vulnerabilizado, ele não teve infância”.

Quando o assunto é vulnerabilidade infanto-juvenil, tema com qual trabalha diariamente durante sua atuação na Coordenação de Segurança das CASES vinculadas à Fundação da Criança e do Adolescente do Estado da Bahia, é firme e direta: “eu quero saber qual é o plantão da Defensoria Pública numa DAI [Delegacia de Atendimento ao Adolescente Infrator], em Salvador, Feira de Santana, tem? Eu  queria saber aonde é que tá o trabalho da Defensoria em relação aos adolescentes em conflito com a Lei, porque a primeira coisa que a gente precisa garantir é a ampla defesa. Muitas vezes os adultos empurram a responsabilidade para os adolescentes e eles ficam reféns, são ameaçados, as famílias são ameaçadas, é um conjunto de coisas”.

Surfista, apaixonada por motocicletas, portadora de uma inteligência sagaz, bem humorada apesar de muito séria, tem buscado fomentar o protagonismo feminino na área da Segurança Socioeducativa e, de maneira pioneira, admite na CASE Zilda Arns a atuação de mulheres tanto na Coordenação de Segurança da Unidade quanto na Coordenação de Plantão. Ao contrário das demais Protagonistas desta Edição, convidadas a conceder a entrevista, ela fez diferente e me enquadrou: “quero saber que dia você vai me entrevistar?”. Aqui está, Eva, tomara que você aprecie!

Essa audácia é altamente inspiradora, a mesma que lhe faz sugerir a correção da indevida flexibilização de um verbo utilizado por esta Jornalista que vos escreve, no texto de apresentação da II Edição deste Editorial. Nos valendo também desse ingrediente que Eva contém, anunciamos a realização do Baile de encerramento do projeto, com ENTRADA GRATUITA. Isso só se tornou possível graças à atitude generosa de quase 100 pessoas que assinaram a rifa que cobre os custos do evento, e às parcerias com a H2F e a Casa Noise, demonstrando na prática como autogestão e coletividade são elementos fundamentais para que o fazer cultural no Brasil sobreviva. Vamos em frente!