A briga para a escolha de um candidato a representar o governo de Jerônimo Rodrigues (PT) nas eleições de 2024 em Salvador está afunilando. Faltando cerca de um ano para a disputa, a base aliada se divide entre os nomes do vice-governador Geraldo Júnior (MDB) e do deputado estadual Robinson Almeida (PT).
Passada a euforia inicial após a oficialização da indicação de Robinson como pré-candidato do PT, Geraldo Júnior se aproximou de duas grandes lideranças no estado — o senador Jaques Wagner (PT) e o secretário estadual Luiz Caetano (PT), da pasta de Relações Institucionais (Serin) — e voltou a ser o mais cotado nos bastidores do grupo governista.
Apesar de muitos petistas resistirem e colocarem publicamente que a pré-candidatura de Robinson segue firme e forte, lideranças do PT, longe dos microfones, assumem que a tendência do momento é a escolha de Geraldo Júnior. Nesse caso, o partido não deve impor dificuldades para apoiar o emedebista.
A possibilidade de duas candidaturas, uma de esquerda representada por Robinson e outra de centro-direita conduzida por Geraldo, chegou a ser cogitada. Entretanto, os líderes do PT estão dispostos a barrar o nome petista, para cumprir o pedido de Jerônimo de ter apenas um postulante da base em Salvador.
“Não acho que haja espaço [para duas candidaturas]. Se o governador chamar e disser que o candidato dele é Geraldinho, o PT não vai impor candidatura ou qualquer constrangimento a Jerônimo”, deixou claro uma liderança petista, que falou sob reserva.
A preferência dos petistas segue sendo pelo nome de Robinson, que também conta com a simpatia de Jerônimo. Após as aproximações de Wagner e Caetano ao vice-governador, o deputado estadual chegou a cogitar retirar a pré-candidatura, mas foi incentivado pelo PT a se manter na briga até o momento da decisão.
“Antes, o favorito era o presidente da Conder, Zé Trindade, que tinha o engajamento do ministro Rui [Costa]. Com a saída dele, a disputa ficou mais aberta. Mesmo que Geraldo seja o favorito hoje, a gente não sabe o que pode mudar até o momento da decisão. Não faz sentido que ele [Robinson] abra mão”, disse um deputado federal aliado de Jerônimo.
Feedback
A grande barreira colocada para Robinson na disputa foi o “feedback” dos partidos aliados. Nas primeiras conversas entre a base, os demais partidos do grupo governistas, como PSD e PSB, sinalizaram não ver o petista como uma candidatura viável, forte o suficiente para fazer o prefeito Bruno Reis (União Brasil) “suar”.
Geraldo Júnior pontua melhor do que Robinson em todas pesquisas realizadas para consumo interno das legendas. E, para a escolha do conselho político governista, isso faz toda diferença.
“[Geraldo Júnior] é melhor que Robinson. Em que pese Lídice ser a melhor, digamos que estamos tendo boas conversas [com o vice-governador]”, afirmou uma liderança importante do PSB baiano, também sob condição de anonimato.
Por outro lado, quadros do PT e do PCdoB apontam para a dificuldade de fazer o eleitorado de esquerda votar em Geraldo Júnior, identificado por eles como um representante da “centro-direita”, mesmo integrando a base de Jerônimo.
“Precisamos ter uma candidatura de esquerda, para que o nosso eleitor se sinta representado por nós. Geraldo não é de esquerda. É de centro-direita. Por mais que seja nosso aliado e que eu goste dele, os valores não são os mesmos. Se não tiver uma candidatura do PT ou do PCdoB, nossos eleitores vão correr para o PSOL, que hoje é oposição”, alertou um vereador, que ainda citou um pedido da presidente nacional petista, Gleisi Hoffmann, para que o partido tenha candidaturas próprias nas capitais do Nordeste, contrabalançando com o apoio do PT a aliados em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Passo à esquerda
Recentemente, Geraldo Júnior chegou a ser convidado para um evento da Esquerda Popular Socialista (EPS), uma das tendências mais à esquerda do PT e ligada ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). Ele compareceu ao ato ao lado de Wagner, com quem tirou foto. Logo na sequência, o vice-governador visitou Camaçari com Luiz Caetano.
A proximidade não chega a ser uma grande novidade. A ida do MDB à base de Jerônimo foi gestada inicialmente em conversas informais de Caetano e Geraldo, em encontros na casa do então vereador Henrique Carballal (PDT) — hoje presidente da CBPM (Companhia Baiana de Pesquisa Mineral).
Quando os dois lados, em um café da manhã, levaram a possibilidade de aliança PT-MDB a sério, conduziram o caso para o senador Jaques Wagner, que deu o aval para a união e chamou definitivamente os emedebistas para a base. Naquela época, já se ventilava a possibilidade de Geraldo ser o candidato do grupo à prefeitura de Salvador em 2024, sem promessas.
A Tarde