Após agosto recorde, área queimada em setembro no Brasil quase dobrou

Depois de um agosto em que a fumaça cobriu boa parte do Brasil, o fogo se espalhou ainda mais em setembro. No último mês, a área atingida pelas chamas passou de 106 mil km², um aumento de 88% em relação aos 56 mil km² registrados em agosto.

 
Os dados são do Monitor do Fogo da plataforma MapBiomas, divulgados na noite desta quinta-feira (10), e mostram que um novo recorde mensal foi batido. Agosto já tinha registrado a maior área queimada desde 2019, quando começa a série histórica da plataforma, e setembro repetiu o feito.

Os recordes também foram computados pelo sistema BD Queimadas, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Agosto teve mais de 68 mil focos de incêndio em todo o país, enquanto no mês passado o número ultrapassou 83 mil. Os índices são os maiores desde 2010.

No acumulado do ano, uma área comparável ao estado de Roraima foi queimada no Brasil. De janeiro a setembro, mais de 223 mil km² foram impactados –133 mil km² a mais que em 2023, um salto de 150%.

A maior parte (73%) do que queimou neste ano era vegetação nativa, principalmente florestas, que representam um quinto do total atingido. Pastagens foram o tipo de cobertura vegetal que mais queimou nas áreas agropecuárias, totalizando 46 mil km².

Mais da metade (51%) da área queimada nos primeiros nove meses deste ano fica na amazônia.

“O período de seca na amazônia, que normalmente ocorre de junho a outubro, tem sido particularmente severo este ano, agravando ainda mais a crise dos incêndios na região –um reflexo da intensificação das mudanças climáticas, que acabam tendo papel crucial para a propagação de incêndios”, ressaltou Ane Alencar, diretora de ciências do Ipam (Instituto de Pesquisa da Amazônia) e coordenadora do MapBiomas Fogo, em comunicado.

Considerando apenas o mês de setembro, o bioma também foi o mais afetado, com mais de 56 mil km² queimados –o que difere de agosto, quando o cerrado teve a maior área atingida.

Os estados que mais queimaram nos primeiros nove meses de 2024 foram Mato Grosso (55 mil km²), Pará (46 mil km²) e Tocantins (26 mil km²). Juntos, representam 56% de toda a área atingida no país.

Considerando a área total dos estados, neste ano o fogo consumiu cerca de 6% de Mato Grosso, 4% do Pará e 9% do Tocantins.

Os municípios com maiores áreas queimadas foram São Félix do Xingu (PA) e Corumbá (MS), com 10 mil km² e 7.410 km² impactados, respectivamente.

A temporada de fogo no Brasil começou mais cedo do que o normal em 2024. Em fevereiro e março, grandes incêndios atingiram Roraima, e, no pantanal, as chamas começaram a se alastrar ainda em junho.

Grande parte da explicação está no fato de a maioria do território enfrentar uma seca histórica, influenciada pelo El Niño, que é intensificado pelas mudanças climáticas.

A falta de umidade no solo e no ar, o calor e o vento facilitam o espalhamento dos incêndios. Em sua maioria absoluta as queimadas têm origem humana, já que a fonte de ignição natural da vegetação é justamente as tempestades com raios, que não vêm ocorrendo na maior parte do país.

Além dos focos que começam em pastos e plantações e regiões recém-desmatadas, neste ano cresceram os índices de florestas nativas atingidas pelo fogo. Segundo o governo federal, a mudança indica ação criminosa.

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